CASSEMS: TEMPOS DE DESAFIOS
Dr. RICARDO AYACHE (52): Cardiologista formado pela UFMS. Membro da SBC – Sociedade Brasileira de Cardiologia, MBA em Gestão de Cooperativas de Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas; Servidor concursado do HR – Hospital Regional; Diretor-presidente da CASSEMS. Entrevistado na sexta-feira (21/07), no programa “Boca do Povo” pelo Jor. B. de Paula Filho, na DIFUSORA/FM-101.9
Por B. de Paula Filho
Boca: Como é o momento para os planos de saúde?
Dr. RICARDO AYACHE – “O cenário é muito desafiador. Os planos de saúde brasileiros passam por um momento delicado nesse pós-pandemia. Ninguém esperava a Covid-19, quanto mais as consequências dela. Em 2022, todos os planos de saúde brasileiros acumularam prejuízos operacionais de mais de 11 bilhões de reais. Esse prejuízo demanda atenção especial do Governo Federal e da Agência Nacional de Saúde. A população precisa ter conhecimento, pois são 55,6 milhões de brasileiros que possuem sua assistência de saúde através dos seus planos. A sobrecarga e despesas extraordinárias resultaram em consequências financeiras. As sequelas que ficaram após o pico da pandemia, mais o represamento dos atendimentos e a inflação na saúde são desafios a serem enfrentados”.
Boca: De que maneiras podemos superar essa situação de crise financeira?
Dr. RICARDO AYACHE – “Como já disse, o Governo Federal e a Agência Nacional de Saúde precisam dedicar mais atenção ao setor, é o que temos conversado com os deputados federais. O modelo de saúde suplementar precisa de estratégias para superar esse momento, de forma a não ocasionar mais consequências para o sistema de saúde como um todo, pois são 55,6 milhões de brasileiros que o utilizam. Os usuários que abrirem mão dos seus planos de saúde, certamente, passarão a utilizar o SUS, o que irá sobrecarregá-lo mais ainda. O debate é complexo e envolve dinheiro e ajustes no modelo de assistência à saúde”.
Boca: A Cassems é um plano de saúde de autogestão. Como os servidores têm participado dos debates acerca do cenário da saúde suplementar?
Dr. RICARDO AYACHE – “Temos feito reuniões com os servidores públicos e suas entidades representativas, como o Fórum dos Servidores e outros grupos, para que possamos, juntos, encontrar uma solução para o problema. Essas dificuldades nacionais repercutem também em nosso estado. Em 2021 foi a primeira vez que a Cassems apresentou um balanço negativo, algo em torno de R$40 milhões de reais. Em 2022 recuperamos um pouco, mas neste ano, 2023, a situação novamente se agravou”.
Boca: – O modelo de contribuição da Cassems é muito abaixo do praticado pelo mercado. Fale um pouco sobre esse modelo.
Dr. RICARDO AYACHE – “Temos um modelo de gestão muito interessante com a rede própria de atendimento da Cassems e com todas as medidas que estamos implementando ao longo dos anos. Queremos um plano de saúde com excelentes serviços e valores acessíveis para o servidor público. Para se ter uma ideia, a Cassems tem uma arrecadação média de R$ 360,00 reais mensais por pessoa. Não existe nada semelhante, em termos de qualidade, abaixo de R$600,00 reais em média. Alguns chegam a valores de R$ 1.000,00 por mês. Nós temos um valor justo, eu não vou falar que é barato, mas é justo para aquilo que entregamos”.
Boca: Hoje, quais são os principais desafios da gestão?
Dr. RICARDO AYACHE – “Uma gestão não pode pecar por omissão, não pode deixar quem confia no seu trabalho sem assistência. Precisamos avançar sem perder o foco na qualidade. Temos a consciência do que construímos até chegarmos a ser um modelo de referência para o Brasil, mas temos a humildade para reconhecer as dificuldades atuais. A sobrecarga do sistema de saúde é enorme. Enfrentamos dificuldades em algumas especialidades. É assustador o aumento de doenças mentais no pós-pandemia. Neste cenário, estamos buscando soluções de maneira coletiva, estabelecendo um debate franco, aberto e transparente.
Boca: De que maneira você avalia o desenvolvimento da Cassems ao longo dos anos?
Dr. RICARDO AYACHE – Hoje nós temos um plano de saúde referenciado nacionalmente. O único centro de transplante de medula óssea do estado está dentro do Hospital Cassems de Campo Grande. Isso não surgiu do nada. Surgiu da coragem, da ousadia, do trabalho de todos os servidores públicos e, obviamente, tivemos muitos percalços, mas, com muita seriedade, temos superado todos eles.
Boca: E como será o futuro da CASSEMS?
Dr. RICARDO AYACHE – “Quem imaginaria que a Cassems teria a maior rede hospitalar do Estado. Nós, quando criamos a Cassems lá trás, queriamos apenas ter uma assistência digna. Estamos reestruturando a Cassems e, ao mesmo tempo, criando um projeto de implantação do serviço próprio de telemedicina, com os beneficiários recebendo assistência de especialistas por videoconferência, algo já regulamentado pelo Conselho de Medicina.
Essa é uma alternativa tanto para a capital, quanto para o interior, onde as dificuldades se acentuam. Grande parte dos médicos se concentram em cidades como Campo Grande e Dourados. Agora, lutaremos para superar todos esses novos desafios”.